PESQUISA - Jovens brasileiros são os terceiros mais religiosos do mundo
O mundo globalizado e tomado de tentações não consegue afastar a religiosidade da população jovem do Rio Grande do Norte. A realidade aponta um momento propício para a busca do sagrado, independente especificamente, da religião seguida. A juventude está mais do que nunca associada à retomada da fé.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Alemão Bertelsmann Stiftung mostrou que o Brasil está na terceira posição, juntamente com Indonésia e Marrocos, em número de jovens religiosos. O estudo realizado com 21 mil jovens entre 18 e 29 anos destacou ainda que 65% dos jovens religiosos do país são profundamente religiosos. “Todo humano tem necessidade de encontrar um sagrado. As religiões são canais para se atingir esse objetivo. Embora não haja necessidade de aproximação de um canal, de rituais para chegar à esse sagrado, no qual ele confia ou acredita e que está próximo de um transcendente. Com o jovem não é diferente porque o jovem está no sítio da condição humana”, informou a pesquisadora do Grupo de Estudos da Complexidade (GRECOM) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Josineide Silveira de Oliveira.
A pesquisadora da UFRN e professora de Ciências da Religião da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) destacou a composição religiosa que há no Estado. “Existe uma predominância de cristãos mas há também a presença e o crescimento de outras religiões como de origem Indu, de filosofia Budista, Islamismo, Judaísmo entre outras”, destacou.
O último Senso Demográfico, realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que os católicos brasileiros somavam 125 milhões e os evangélicos 26 milhões. A pesquisa realizada na Alemanha destacou que no Brasil quatro entre cinco jovens (85%) são religiosos, e 44% (quase metade) são profundamente religiosos.
A Ciência estuda a religiosidade nos cursos de Ciência em Religião, estes que não são denominados Teologia. “Trabalhamos com a História das Religiões, a Teologia e Filosofia. Estes universos são estudados para ser possível compor o fenômeno religioso”, explicou.
Apesar dos resultados da pesquisa indicarem um número elevado de jovens religiosos no Brasil, a pesquisadora da UFRN lembra que o tempo está propício à liberdade de expressão. “É possível sim que os jovens também afirmem sua crença, busquem seu Deus de sua maneira, sem estar inserido em uma religião específica”, destacou. Segundo o Senso 2000 do IBGE, o RN possui 500 mil jovens de 18 a 29 anos, que seguem a religião católica, 52 mil evangélicos, 3 mil espíritas, 301 praticante de Umbanda e Candomblé, 5 mil de outras religiões e 40 mil declarados sem religião.
Amor divino
Que a religiosidade está presente entre os jovens do Rio Grande do Norte é inegável. Os diferentes tipos de grupos existentes nas igrejas acabam atraindo a população para uma maneira mais coletiva de expressar o amor divino. Cada religião tem sua forma de atrair e encantar os seus jovens fiéis. A união da fé e amizade mobiliza o grupo de jovens católicos em Natal e Parnamirim.
No bairro da Cidade da Esperança, na noite dessa última quinta-feira (31) o grupo de dez pessoas se reuniu na casa da estudante Gabriela Lobo, de 24 anos para celebrar a religiosidade. “Esse encontro é um exemplo do que a a nossa satisfação religiosa é capaz de fazer. Através da igreja nos tornamos amigos e hoje nossa união é única. Aqui nos rezamos, conversamos e partilhamos nossa fé”, destacou Thiago Florêncio, balconista por profissão e Ministro da Eucaristia da Paróquia de Nossa Senhora da Esperança.
A participação dos jovens católicos nas igrejas de Natal vai além de encontros dominicais. Todos os jovens entrevistados pela reportagem participam dos grupos de pastorais da Igreja. Os grupos em que os jovens oferecem parte de seu tempo são Dízimo, Saúde, Criança e Catequese, além da presença nos grupos de encontro, que são envolvidos com muita música e diversão.Alegria e dinamismo qualificam os encontros da juventude da Igreja Evangélica Assembléia de Deus do município de Parnamirim. Em média 200 jovens participam dos encontros de Orquestra, Coral e grupo Brilho Celeste. Há também uma grande adesão de jovens na União Mocidade da Assembléia de Deus de Parnamirim. “Trabalho de dia e participo dos encontros com os outros jovens”, disse Vilson Davi, de 24 anos.
A pesquisa realizada pelo Instituto Alemão Bertelsmann Stiftung destacou os jovens que vivem optando por seguir os mandamentos da religião. Os evangélicos se mostram satisfeitos com os eventos da igreja. A jovem Karina Leonardo do Nascimento, de 19 anos afirma que a vida mudou quando sentiu um chamado divino para ingressar na religião. Filha de católica praticante, Karina chamou a atenção da família ao informar que já tinha escolhido a sua religião. “Decidi ser evangélica e hoje estou realizada”, relatou.A forma de pensar da jovem evangélica é reforçada pelo pensamentos dos jovens que participam do grupo da igreja de Parnamirim. De acordo com Vilson Davi, a gratificação de estar inserido nos encontros e ações da congregação são responsáveis pelos momentos de felicidade. “Basta participar dos eventos, dos cultos e dos encontros. Tudo aqui é tão dinâmico que até viagens realizamos nas férias. Por isso não sinto falta de festas, cinemas ou shows. Gosto de estar aqui e isso me satisfaz. Não sinto falta de amis nada”, destacou.
O aumento da religiosidade entre os jovens no RN é destacado por Frei Gilberto de Oliveira, da Igreja de Santo Antônio, que fica no Centro de Natal. A quantidade de jovens católicos na igreja aumentou desde minha última visita a cidade, que foi em 2002. “Os jovens estão muito presentes nas igrejas aqui no Estado, aqui no Convento mais ou menos 50 jovens participando de algum grupo de encontro. Isso sem falar dos jovens que participam das missas, que são centenas”, disse.
Bate-papo / Gilberto de Oliveira
Aos oito anos de idade um desejo de aprofundar os conhecimentos na vida de São Francisco de Assis levou o Frei Gilberto de Oliveira a seguir a vida religiosa. A vida de Franciscano Capuchinho está no seu oitavo ano. Na Igreja de Santo Antônio e no Convento Franciscano, Frei Gilberto, de 24 anos comanda os grupos de jovens e ainda orienta alguns que se aproximam para confessar suas experiências. Após 1946, ano da Renovação Carismática da Igreja Católica, uma inovação cultural trouxe novidades para o Catolicismo no Brasil, segundo Frei Gilberto.
O que motivou a busca pela religião tão jovem, aos 15 anos?
Primeiro foi o conhecimento, depois veio o amadurecimento e a decisão. Digo isso porque ninguém ama aquilo que não conhece. Quando eu ainda era Coroinha na minha igreja, resolvi que queria isso para minha vida.
Qual a percepção sobre os jovens religiosos do Rio Grande do Norte?
Reparei que em Natal e em alguns dos municípios do interior os jovens católicos não apenas buscam Deus, eles encontram. É incrível a quantidade de jovens religiosos aqui no Estado.
A Igreja Católica tem realizado ações para atrair os jovens, como tem feito a Igreja Evangélica?
Eu acho que a Igreja Católica tem feito melhor. Ela tem dado mais espaço. Ela oferece além de música e oração a responsabilidade. Os jovens estão cada vez mais interessados nas ações missionárias. Eles estão atuando em suas comunidades com ações sociais.
O que é a religião?
É um meio condicional que nos leva à Deus. Ela é o mais perfeito caminho para se chegar a Deus.
E viver sem religiosidade, o que seria?
É ter uma vida fazia. Viver sem religião é não ter rumo na vida. É estar no no mar a deriva, quando todos os ventos podem levar para qualquer lado.
A pessoa pode buscar Deus, buscar a religião em qualquer fase da vida?
Sim, a pessoa pode buscar Deus em qualquer época da vida. A busca, a conversão pela Igreja pode se dar em vários períodos da vida. Tanto na juventude ou na vida adulta.
Acessado em 04/08/2008 no sítio Tribuna do Norte. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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